terça-feira, 25 de setembro de 2012

EDITORIAL: A SAÚDE É MULTIPROFISSIONAL MAS O ERRO É SEMPRE MÉDICO, OU DA SÉRIE: A MENTIRA DA SAÚDE MULTIPROFISSIONAL

A prescrição de "itens básicos e simples" por enfermeiros (detalhe que quem define o que é simples e básico?) é uma das bandeiras dos defensores da chamada saúde multiprofissional. Na minha época médico prescrevia o tratamento e o enfermeiro prescrevia o cuidado. A saúde multiprofissional defende que "todos façam um pouco de tudo" como por exemplo um comandante de bordo trocar de lugar e ir servir barrinhas de cereais enquanto a aeromoça fica "um tempo" no comando da avião pois o vôo "é simples".

O Ministério da Saúde, interessado na economia que isso pode representar, estimula isso e até pouco tempo atrás normatizava em quais situações o enfermeiro poderia "prescrever remédios". Felizmente essa o CFM derrubou na justiça.

Porém esse discurso bonito, alimentado por uma falsa justiça social construída em tempos de um "Estado Babá" tem como motor apenas o dinheiro: Seja a necessidade do mesmo Estado economizar o máximo possível no gasto ou na necessidade dos paramédicos em ganharem um pouco mais de dinheiro invadindo o mercado médico ou meramente ter o prazer de ser chamado de "doutor". Todo o resto é mentira, vide que os cabeças políticos e intelectuais dessas idéias jamais desfrutaram de equipes multiprofissionais, partos em casa ou demais devaneios. Todos estão bem equipados nos Einstein e Sírio da vida.

A maior prova da mentira do discurso multiprofissional é a própria população, que jamais foi consultada sobre quem quer que os atenda na unidade de saúde. A população rejeita essa idéia, tanto que mesmo quando não existe médico envolvido, ao ocorrer um erro, o erro foi "médico". Pois quando ela procura ajuda ela quer médico e não paramédico. Vide o caso atual onde paciente morre após prescrição de enfermagem, mas como sempre o erro "foi médico".

Os casos recentes envolvem também outra situação: Quando a equipe com médico faz o que deve mas a gravidade da lesão/doença é tão intensa que o desfecho fatal não é evitado. A equipe estava lá, mas o desfecho fatal, claro, foi um erro médico. Mesmo quando se trata de um clássico caso de envenenamento cuja quantidade e tempo de ocorrência impediram que a lavagem fosse eficaz. Não interessa, para o Estado Babá o cidadão é sempre inocente e merece proteção total, mesmo quando a irresponsabilidade é patente. O Estado Babá mima suas "crianças" e culpa seus "empregados" por tudo.

Como tática para oprimir o médico, vale a máxima: A Saúde é Multiprofissional, mas o Erro é Médico.

Uma das críticas que sempre ouvi de recalcados é que "médico se acha Deus". Infelizmente nos dias de hoje, com uma população mimada e irresponsável vitimizada por um Estado curador e paternalista (Estado Babá), o médico não só precisa se achar como precisa SER DEUS de fato, pois se não conseguir a vida eterna e a remissão dos pecados para todos, será sempre o alvo da ira e dos processos daqueles que são as "eternas vítimas" da sociedade.

Ou a sociedade cresce e amadurece ou vamos ficar sem médicos. Aliás, algumas especialidades já estão virando raridade, como pediatria e ginecologista. No SUS então, peça rara. Falta desses profissionais? Não, existem aos potes. Mas ninguém mais quer ficar submetido a um Estado tirano e a uma população mimada e irresponsável que não colabora e não assume os próprios erros e omissões. 

Eles estão fazendo outra coisa, enquanto que a população continua oprimindo os poucos profissionais que ainda se submetem a isso. Em breve não haverá mais nenhum e ai a sociedade terá o que merece pela forma como trata os médicos hoje em dia.

Erro médico? Claro que existe. Mas o abuso e a facilidade com o qual ele é invocado em especial por quem é notoriamente culpado (vide o caso do envenenamento) afasta os médicos do SUS. Assim, nem os cubanos da Dilma vão querer ficar, se um dia conseguirem passar na prova de revalidação é claro.

Para saber mais:

2 comentários:

Vandeilton disse...

Olha, sobre o "erro médico" de Cariacica/ES, a prefeitura relatou que quem atendeu foi uma médica. A família diz que foi uma enfermeira. Sobre este desencontro de opiniões, não cabe a nós julgar, pois as informações de familiares, nestas horas, nem sempre são exatas.
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Agora, a causa da morte pode estar mais relacionada com TCE que com alergia a buscopam. Um choque anafilático pode sim causar convulsões, mas teria outros sintomas não revelados na reportagem (principalmente dérmicos e respiratórios).
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Sobre a gravidez, ninguém sabia dela e buscopan não prejudica nenhuma gravidez, além de que DHEG não é comum aos 2 meses de gestação.
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Sobre a alcunha de "erro médico", quem a aplicou foram os jornalistas, no título da matéria. Os familiares não citaram esta frase na reportagem.

Vandeilton disse...

Sobre o médico se achar Deus, não concordo.
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Em geral, o médico se acha um idiota, um semi-escravo que salva vidas, tem a capacidade intelectual e cultural, além do sangue-frio, de salvar vidas, e mesmo assim tem que aceitar ser tratado como o culpado por todos os problemas de gestão, falta de civismo popular e corrupção do Brasil. E tem que ficar calado, pois se falar a verdade (que o povo é mais cúmplice dos corruptos do que vítima, por exemplo), vira monstro e coloca até a integridade física de seus familiares em xeque.
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O médico se sente usado e, como tem que sobreviver, e como teve que passar toda sua meninice, adolescência e juventude estudando SÓ medicina, quando entra para valer no mercado de trabalho aos 30 anos TEM que continuar nesta profissão, pois já tem família, tem que ganhar dinheiro e não tem nenhuma outra profissão que lhe garanta o pão de cada dia.
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Agora, o povo sim nos acham deuses quando lhes aprouvem.
Acham que não temos direito de descansar, que não temos direito de ficar doente, que não temos direito de perder a paciência com acompanhantes chatos, que temos poder para salvar qualquer um e que, se alguém morreu, foi porque nós o deixamos morrer. Acham que não precisamos de dinheiro, não precisamos de um tempo para nossos familiares, que temos que fazer votos de pobreza e que, além de tudo, temos que ser exemplos supremos das virtudes bíblicas do mundo.
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Se isto tudo não for a descrição da vida de um Deus, não sei do que é!
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Mas não fazem tudo isto porque nos admiram. Fazem tudo isto para nos chantagear. Para nos obrigar a fazer suas vontades. Quando a história se reverte e eles ficam contra nós, aí passamos de Deus para um simples funcionariozinho de posto (o famoso: tá achando que é quem? eu que pago seu salário! não faz mais que seu dever, etc). Não pensam duas vezes em usar o código do consumidor contra nós, como se a relação médico-paciente fosse um simples comércio.
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Ora, se a coisa é comércio, porque tanta irritabilidade com nossa necessidade de dinheiro para sobreviver. Comércio serve para isto, não é? lucro!
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Sim, o povo é nosso patrão, paga-nos muito mal, coloca sempre os mesmos gerentes corruptos para nos administrar e, como era de se esperar com gerentes corruptos, quando a empresa vai de mal a pior, trata os empregados de forma sádica, escravocrata e violenta.
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Sim, o povo não é vítima. É cúmplice dos corruptos, um péssimo patrão e oportunistas, sempre agredindo os que não podem se defender para desabafar suas raivas (porque não vão tentar bater em um deputado, senador ou prefeito, que vivem cercados de seguranças?).
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Em suma: covardes, com raras exceções.