terça-feira, 29 de maio de 2012

MP 568, O DESMONTE DO SUS PELO GOVERNO E A FRAUDE DO DISCURSO DA SAÚDE MULTIPROFISSIONAL.

Não é de hoje que este blog denuncia o desmonte da saúde pública brasileira promovido pelo Governo Federal de longa data. (clique aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui).

Ações típicas desse desmonte estão na cara de todos como o não-custeio, a inobservância às regras vigentes, a falta de cuidado com o gasto, o sucateamento físico das unidades e esmagamento moral dos servidores públicos, achatamento salarial, esvaziamento de servidores e por fim a solução mágica da entrega do SUS à iniciativa privada através dos contratos de parcerias público-privadas, vendendo-se a imagem de uma "gestão eficiente" quando na verdade se mascaram números e esconde-se a população doente dentro de pronto-socorros superlotados.

Ter o controle da Saúde, que virou negócio bilionário e é tema politicamente sensível, exige ter controle TOTAL do profissional que faz essa banda tocar, ou seja, o médico. Para controlar, tem que subjugar o médico e nada como as velhas táticas opressoras de demonizar e desmoralizar o profissional, para tirar-lhe a autoridade moral e técnica sobre o assunto a ser controlado.

Táticas de desmoralização do médico, o profissional "caro", o "custo" a ser controlado, são mais que conhecidas de todos. O Governo não dá condições de atendimento nem segurança física e jurídica e depois culpa os "burgueses" médicos pela falta de atendimento da população, principalmente no interior. Demoniza-se e desmoraliza-se. Matérias sobre o "não cumprimento de jornada de trabalho" são mais que repetidas, ad nauseam, e encontram na imprensa e no MPF aliados úteis, que aproveitam a chama da fogueira para aparecerem enquanto que Cachoeiras e Cabrais e Demóstenes são escondidos.

Com essa política de desautorização do médico na área da saúde, pretende-se ter o total controle sobre os custos e destinos desse negócio bilionário e politicamente rentável. Nada melhor então para mascarar essas intenções malignas que um belo discurso hipócrita e falso, pintado de bonzinho com termos como "humanização" e "multiprofissionalismo".

A chamada saúde multiprofissional é uma fraude, uma farsa baseada em uma falsa ciência e insuflada por imbecis que no alto de sua pseudo-esquerdice apóiam esse discurso como se fosse uma luta anti-burguês (no caso, o  médico) mas que na verdade trata-se de uma desavergonhada tentativa do capital de se substituir o médico, profissional "caro e burguês" por outros profissionais "da saúde", cada um pegando um naco da medicina: O enfermeiro vira um pouco clínico, o psicólogo um pouco psiquiatra, o fisioterapeuta um pouco ortopedista, a fonoaudióloga um pouco otorrino e por ai vai a barbárie. Até farmacêutico, que não estuda patologia clínica na faculdade, foi alçado à condição de "um pouco patologista". 
Com isso, todos viram "doutores", nivelados por baixo e aptos a "cuidar da população" a baixos custos e os pseudo-esquerdistas não enxergam que, na verdade, o discurso da saúde multiprofissional está à serviço do Grande Capital, pois transforma todos os profissionais em proletários assalariados a preços de banana para girar a roda bilionária da Saúde.

Mas a população acusou o golpe: Não quer "profissional da saúde", quer "médico". Médico que dê atestado (o do fisio não serve, nem do enfermeiro), médico que dê remédio (a farmácia não libera...), médico que atenda, etc. 

A multiprofissionalização não deu certo, mas ainda vive pois é uma arma contra o principal inimigo desse pseudo-ideologia esquerdista anti-médica: O Ato Médico.  Na hora de votar a Lei que acabaria com essa ZORRA na Saúde, o ato médico,  os paramédicos em plena luta por empregos e políticos em plena luta antagônica aos interesses da saúde pública e universal se unem nesse discurso hipócrita baseado em falsa ciência e que não passou por nenhum crivo de aprovação populacional. A ironia é que esses inimigos da medicina são os mesmos que procuram os hospitais mais CAROS do País quando caem a si próprios doentes ou familiares. Quem tem, tem medo.

Fracassada a tentativa de "multiprofissionalizar" a saúde no país, partiu-se para a outra saída: terceirzar o médico. Dando a ele vínculos precários ligados a cooperativas ou "PJ", ele ficaria manso, desarmado e o governo se livrava do custo trabalhista e do "problema do servidor que contesta". Sob o chicote do empregador privado, o controle é mais fácil.

Nesse vinco, a aprovação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, uma excrescência legal que vai criar um grande "cooperativão" nos Hospitais Universitários país afora, a cessão de hospitais e prédios para "organizações sociais" e matérias sucessivas na mídia mostrando como o serviço público é "ineficaz" se prestam ao papel de entregar à iniciativa privada os 65 bilhões de reais por ano que giram no SUS. Só restava lidar então com os cargos públicos de médicos já existentes.

Seguindo firme nessa trilha, o Governo Federal atual quer dar um tiro de morte no serviço médico federal, estuprando o Congresso Nacional e editando na MP 568 um PL que há um ano vinha sendo debatido no Congresso. Um PL que acaba com a insalubridade do servidor médico e reduz seu salário em até 50% a médio prazo. Para dar um toque a mais, nada melhor para baratear a profissão do que encher o país de médicos. Inverte-se uma estatística e passamos à condição de país com "poucos médicos" querendo fazer "reserva de mercado".

Com isso, a mesma presidenta que vetou a EC 29 e tirou bilhões da saúde (mas chegou a considerar criar uma nova CPMF usando a saúde como desculpa, idéia abortada por pressão social) agora pretende expulsar e extinguir a carreira pública de médico federal e dar o exemplo a todos os estados da federação.

O sonho deles é o seguinte: Baratear o "custo saúde" de qualquer maneira sempre exigindo o máximo de qualidade e espalhar esse modelo para todo o país, pois saúde é área sensível e gera/custa votos mas não pode exigir "grandes gastos" pois o dinheiro do povo tem que ser "melhor aplicado", vide o caso Delta Engenharia. Aos pseudo-esquerdistas que apóiam isso, querem algo mais capitalista que isso?

Mas eles, políticos, não podem ficar a mercê desses médicos baratos. Como se resolve isso? Simples, já se definiu que teremos 3 tipos de medicina neste país.

A) Medicina de Grife = Políticos e Ricos vão continuar se consultando com os mais famosos e prestigiados médicos e hospitais luxuosos do país, como a Presidenta, que só se consulta em hospital nobre de São Paulo e cujo neto nasceu no hospital privado mais elegante de Porto Alegre (Casa de Parto não dava conta??). Valorizam-se exames complementares caros e na maioria das vezes questionáveis como sendo "boa medicina". 

B) Medicina de Atacado = A Classe Média vai ter que pagar plano de saúde, dando dinheiro aos empresários do setor, para poderem ter um atendimento minimamente decente, obviamente dependendo do plano é claro, pois não há dinheiro para bancar um hospital nobre em cada esquina e, se todos forem nobres, qual a graça não é mesmo? Como toda classe média, espelharão-se nos nobres e haverá demanda por todo o tipo de exame caro e novo que aparecer na revista semanal de informação. O uso da boa medicina ainda terá um aliado principalmente quando o problema do custo for mais alto que o problema da insatisfação do cliente.

C) Medicina de Pobre =  Os Miseráveis que não podem pagar nada e vivem de "bolsas-sustento" vão continuar vendidos à falácia da multiprofissionalização, sendo atendidos por não-médicos e com um PSF de fachada para tapar esse buraco, naquilo que o neoliberalismo define como Política Focal. Esses não vão ter acesso a nada, será a política do "tratar sintoma" e "6 meses pro Ultra-Som" e "1 ano para a biópsia", a política da peregrinação de postinhos, do atendimento rápido "se não vamos invadir", do médico isolado atendendo 250 fichas em 12h. Aqui, alguns casos vão ter sorte e vão espirrar em Hospitais Universitários, onde poderão ter uma tendimento um pouco melhor.
Onde nem o paramédico quer ir, a Presidenta já achou a solução: Fragilizar a prova de conhecimentos para permitir a entrada de todos os "estrangeiros" que não conseguiram sequer passar no vestibular de uma das mais de 170 faculdades de medicina no País para eles "irem atender na Amazônia". Obviamente por míseros 2 anos, depois ele poderá ser mais um médico em busca de emprego nas capitais. Ah, sem esquecer que muitos desses estrangeiros na verdade são brasileiros que optaram por estudar em Cuba, onde só vão pessoas indicadas pelos partidos que estão no poder hoje em dia.

A medicina perde nas 3 opções pois quem passa a ditar seu funcionamento é o mercado e a mídia. Exame físico, anamnese, ectoscopia e outras coisas "estranhas" e que "tomam tempo" vão ser uma mera lembrança dos livros de semiologia do passado. Mandará o exame complementar, o aparelho caro, a chuva de exames laboratoriais e a peregrinação entre "especialistas".

E o SUS, esquecam, voltará a ser apenas uma bandeira, como era antes de 1986.

A saúde virou uma grande Ação entre Amigos e nessa ação os médicos e os pacientes estão fora da equação. Ou como diz um brilhante artigo americano sobre Administração Hospitalar: O médico, hoje em dia, é o segundo elemento mais sem importância dentro de um hospital. Só perde para o próprio paciente.

A MP 568 é a tradução disso tudo que está descrito. Não acreditem em mim,. vejam e analisem os dados disponíveis.

Agora chega. Hora de girar a roleta. Ah, não se surpreendam se em breve algum banco público ou fundo de estatal começar a anunciar a venda de "planos de saúde".

Um comentário:

Asdrubal Cesar Russo disse...

Texto irretocável!!! Parabéns!