domingo, 1 de dezembro de 2013

COM DEZ ANOS DE ATRASO, MINISTÉRIO DA SAÚDE ATUALIZARÁ RECOMENDAÇÕES PARA TRATAMENTO DE PACIENTES VIVENDO COM HIV-AIDS

Há mais de dez anos os melhores infectologistas do mercado abandonaram as recomendações de só tratar pacientes infectados pelo vírus HIV após determinada quantidade de CD4/Carga Viral ou determinado estado clínico.

Os motivos para isso eram óbvios na época: quanto mais tempo com viremia detectável no sangue, maiores os danos a médio-longo prazo para o paciente. E quanto maior a queda de CD4 sustentada ao longo dos anos, maior a dificuldade em recuperá-los após a instituição do tratamento. Em 2009 um grande estudo feito nos EUA para confrontar essas duas correntes (tratar cedo e tratar tarde) foi interrompido pois as taxas de mortalidade no grupo que iniciava tratamento tardio foi considerada inaceitável pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

Na prática, o grupo que iniciava precocemente o tratamento conseguia atingir a mesma probabilidade de sobrevivência que a população não-infectada. Os efeitos colaterais do tratamento já são conhecidos de longa data e não impactam a vida a médio prazo. Eu sempre fiz parte do grupo de médicos que tratava precocemente os pacientes com HIV. Em 2004, era considerado "uma afronta ao MS", "maluco", dentre outros.

Desde 2009 não é mais aceitável, sob nenhum argumento, postergar o tratamento para pacientes infectados, à luz dos estudos publicados. Mas o MS mantinha a postura de orientar tratamento apenas à moda antiga, prejudicando centenas de milhares de pacientes.

Hoje, a imprensa publica que o Ministério da Saúde finalmente "mudou" a postura e vai "autorizar" o tratamento de todos os pacientes. Isso vai quadruplicar a verba para remédios anti-retrovirais. Mas é o que tem que ser feito por um órgão que se diz responsável pela saúde do país.

Com dez anos de atraso, o MS brasileiro resolve "atualizar" as orientações. Para quem tem a sorte de passar com médicos da vanguarda, isso é irrelevante pois eles já estão em uso de "coquetel" e preservando ótima saúde (apesar de orientar o contrário, o MS não proibia que pacientes com CD4 > 350 pegassem remédios). Para os que dependem do SUS e agora dos cubanos, um alento. Só falta voltarmos a ter um programa de DST/AIDS que de fato possa ser chamado de tal, pois na gestão Padilha o programa foi reduzido a distribuidor de remédio.

Estamos vivendo uma epidemia de sífilis e ninguém fala nada, ninguém mede nada. Voltei a ver crianças de 15-16 anos infectadas no ambulatório. Mas pelo menos tenho que falar aqui, a favor, que o MS nunca vetou distribuição de remédio para quem tinha CD4 elevado. Apenas estimulava que isso não fosse feito.

Para saber mais: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/12/1379262-governo-amplia-oferta-de-antirretrovirais-a-todas-as-pessoas-com-hiv.shtml

2 comentários:

Marcelo Rasche disse...

Muito vi sífilis secundária no pronto-socorro.

Gonorreia então, incontável.

Snowden disse...

São os Guidelines do Governo da Banania!
Ps: já comprei meu Preyestation, 10 parcelas de 400 dilmas!