domingo, 6 de janeiro de 2013

IML DE SÃO PAULO ENTREGUE ÀS MOSCAS


DA FOLHA DE SÃO PAULO
LEANDRO MACHADO
DE SÃO PAULO

Poucos técnicos de raio-X, sistema de exaustão imundo, impressora que não imprime, fedor de cadáver putrefeito perto da sala de necropsia.


Esse é o cenário que a Folha encontrou ao visitar cinco dos seis postos do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo nas últimas três semanas. Não foi permitido acesso ao posto central, no Hospital das Clínicas.
Editoria de Arte/Folhapress


Em São Paulo, que teve 1.327 assassinatos até novembro, há só um técnico de raio-X por plantão para os postos do IML, para onde vão mortos por causa violenta ou suspeita.

Quando chamado, o plantonista precisa se deslocar até 36,5 km entre as unidades, ou 50 minutos sem trânsito. O plantão no IML é de 12 horas.

Em novembro, por exemplo, quando a PM Marta Umbelina da Silva, 44, foi morta com ao menos dez tiros nas costas, o exame foi feito horas depois. Faltava o técnico.

Segundo funcionários, a direção do IML chega a pressionar a equipe para liberar os corpos com mais rapidez, pois familiares reclamam da demora da necropsia.

Um médico revelou já ter liberado corpos baleados sem ter feito o raio-X. Outro contou ter esperado três dias para o exame. O corpo, diz, entrou em decomposição.

O exame serve para saber em que parte do corpo uma bala se alojou. Sem ele, o médico tem que procurar a bala no corpo, o que demora mais.

Falta de material adequado para trabalho foi outro problema relatado à Folha.


O IML de São Paulo comprou por R$ 157 mil, em maio, duas máquinas para "embalar" corpos e conter o mau cheiro. Uma delas foi enviada ao IML central. A outra, mandada à unidade oeste (Vila Leopoldina), nunca funcionou e está abandonada, dizem funcionários.


O problema é que os corpos não passam pela entrada do equipamento, pois cadáveres putrefeitos ficam inchados por gases e mantêm os braços abertos, em posição conhecida como "lutador".




Eduardo Anizelli/FolhapressAnteriorPróxima
Paredes danificadas no IML da Vila Leopoldina, em São Paulo


VAQUINHA


Cortar ossos também já foi um problema para médicos legistas. Em 2009, funcionários do IML Leste 1, em Artur Alvim, arrecadaram dinheiro para comprar uma serra elétrica. Antes, o procedimento era com um serrote comum.


No local, há mato alto no entorno, falta bebedouro para o público e papel higiênico.


A vaquinha é um expediente comum também na zona norte, no posto do Mandaqui, para comprar água, sabonete e itens de higiene pessoal.


Em outra unidade, na Vila Leopoldina, zona oeste, o cheiro forte de corpos em decomposição chega a 10 metros da sala de necropsia. O sistema de exaustão, que impediria a concentração do odor, não tinha o filtro limpo havia oito anos, dizem funcionários.


Assim que a Folha questionou a Secretaria de Estado da Segurança Pública sobre o problema, o filtro foi trocado.


Na sala, moscas mortas estavam na mesa. E a impressora do posto quebrou, o que impede a emissão de laudos.


SEM USO


Aberto há dois anos, o IML Leste 2, em São Mateus, tem uma sala de necropsia pronta, sem uso. O local carece de ajustes, como a troca do encanamento -que, por ser muito fino, pode entupir facilmente com cabelos ou ossos. Mais: a tubulação está ligada à rede comum de esgoto, o que pode causar contaminação -o sistema terá que ser mudado.


A sala será aberta em 2014.


A Folha foi ao posto da zona sul, no Brooklin, por volta das 21h, após o fechamento da unidade ao público, percorreu a unidade e não viu funcionários. Foi possível entrar em uma sala onde havia um cadáver. A reportagem saiu sem ter sido notada."

Nota do BLOG: É assim que o estado brasileiro (escrevo com minúsculas mesmo) trata o cidadão, suas famílias. Não são respeitados em vida muito menos na morte. A população erroneamente dirige sua fúria para os servidores da ponta, que precisam fazer seu serviço em condições assim, quando na verdade deveriam dirigir sua raiva aos dirigentes e políticos que os indicam aos cargos. No INSS a situação é igual e São Paulo não difere do resto do país.


A população é cúmplice da má gestão pública pois vota nos governantes que fazem isso e não cobram deles as medidas necessárias para corrigir o caos instalado. Talvez por isso prefiram o caminho mais fácil, que é culpar o servidor que está ali sob assédio moral duplo (das chefias e da precariedade insalubre local).


Enquanto a população for cúmplice disso, não haverá melhora. E podem xingar os peritos à vontade, pois a culpa é sua, cidadão presunçoso, preguiçoso e ignorante que provavelmente nem se lembra em quem votou nas eleições de 2012.


Um comentário:

sonoimax disse...

Só quem fas necrópsia sabe o quanto é ruim se achar mais orifícios de netrada do que de saída e não ter radiografia para ajudar, fica-se fazendo picadinho para encontrar os projéteis. Desrespeitoso com os Mortos e com os auxiliares de necrópsia