segunda-feira, 12 de julho de 2010

Para que serve a história?

"Chega sempre um momento na história em que quem se atreve a dizer que dois e dois são quatro é condenado à morte. " (Albert Camus) 

Lendo Camus relembro de início de 2008, quando eu e outros colegas falávamos da importância de lutarmos por remuneração subsidiada e carreira de estado, o que são a mesma coisa. Debatíamos, buscávamos fundamentos teóricos em juristas (como o Juarez Freitas que foi até a uma reunião nossa no MPOG). Muitas carreiras caminhavam nessa direção naquele momento. A mentalidade tacanha do presidente e a alienação da grande massa de colegas não só sepultou o projeto como aniquilou quem o defendia.

Ficamos (nossa representação) insistindo em reuniões com o INSS; quando o debate deveria se aprofundar no MPOG, buscando apoios externos, na Câmara e Senado, por exemplo. Todo o ano de 2008 transcorreu sem avanços, enquanto as demais carreiras conseguiam seus objetivos. Afundamo-nos mais no INSS, em suas armadilhas e artimanhas em subjugar uma categoria em particular. Em setembro, uma greve de um dia e um bode expiatório, perfeito. 2009 foi um ano nulo, absolutamente sem qualquer avanço ou construção de um avanço futuro, pois o único interlocutor - o INSS -  fechou sua porta. 

2010 está sendo o ano da revolta, ano em que as insatisfações chegaram ao nível intolerável. E o que avançou? Pouco, apenas a questão da excelência, arremedo do que seria o debate por autonomia técnica dos peritos que, por ser criado pelas bases, mudou de nome para ter o DNA do "grande líder".

Alguns fracassos, como a recusa da categoria por aumento de 150% nas mensalidades e o veto a uma emenda não articulada levam a retaliação através de uma greve nascida para durar 4 ou 5 dias e arrecadar milhares de reais em fundo-de-greve. Fugiu do controle e se tornou um movimento intenso, mas mal estruturado e mal coordenado. Tem pauta confusa, extensa e desalinhada. Os revoltosos se mantém em greve assim mesmo, movidos pela insatisfação e não por uma boa pauta, aquela que agregaria a categoria e a sociedade.

Em uma espiral histórica, voltamos praticamente ao mesmo ponto de 2008, dois anos perdidos. Se a pauta correta não for adotada, se o interlocutor correto não for priorizado, talvez levemos mais uma circunvolução orbitária de 2 anos para voltarmos ao ponto em que estamos. Acontece que o universo se rearranja e, talvez nossa rota mude em direção a um buraco negro.

A história nos dá a oportunidade de voltar a debater os subsídios com mais argumentos atuais, como o próprio SIASS e lista de carreiras que o conquistaram, mas temos assistido uma postura medíocre em relação às mudanças necessárias, arrogante quanto ao tratamento dos colegas, prepotente quanto ao tratamento ao governo, aristocrata e teimosa quanto ao encaminhamento da greve.  A corte vê pequeno, pensa pequeno e compensa com luxo e extravagâncias, como governantes totalitários do século XVIII ou anteriores.

Quem me lê lembra desses fatos? Enxerga-os em uma perspectiva histórica?

Para encerrar, outro personagem histórico importante disse:
"A história é um mestre implacável. Ela não tem presente, apenas o passado se precipitando para o futuro. Tentar se segurar é ser varrido de lado." (John F. Kennedy) 

8 comentários:

Anônimo disse...

Caro EH,

A cada instante parece que temos mais um "abort mission" em andamento. Dizem, os boatos, que o objetivo final era uma ou outra chamada extra para pegar as "sobras" com a finalidade de se montar um mega-congresso para reeleição garantida. Pobres peritos os que possuem tal representação como tábua da salvação?

HSaraivaXavier disse...

Muito bom texto EH. Parabéns pela composição. Quanto ao conteúdo é exatamente isso. A idéia do subsídio foi perdida por 2 anos e volta a ser discutida da estaca zero. Só que desta vez sem apoio adequado.
Infelizmente os associados ANMP foram obrigados pelo INSS a entrarem em greve por serem ultrapassados todos os limites da tolerância possíveis. Da mesma forma a única porta de saída disponível para o escape é a ANMP com todas as ferramentas para conduzir a greve.
Felizmente 2011 está pertinho e o espiral da história vai passar pelo mesmo ponto outra vez.

Adriano Battista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriano Battista disse...

Em 2008, apatia, desmotivação, falta de vontade política, interlocutores desinteressados, reuniões "ad infinitum" infrutíferas... "Na próxima reunião será definida a data da reunião que servirá para agendar a reunião subseqüente..."

Certa vez um cientista fez a seguinte ilustração::

"Estamos todos a bordo de um trem que desce a montanha em alta velocidade. Há alguns comandos desconhecidos (...) e é bem possível que o maquinista seja o diabo. Enquanto isso, a maior parte dos passageiros (a humanidade) encontra-se no último vagão olhando para trás."

Fernando Ebling Guimarães disse...

Penso e não consigo entender, talvez alguém possa me auxiliar.
O governo, leia-se MPOG, reconhece através de decreto e de manual oficial a complexidade do trabalho que realizamos, estebelece critérios super rigorosos para a concessão de benefícios por incapacidade para um determinado regime de previdência, enquanto que para o outro seja o que deus quiser. Estamos todos desejosos de autonomia e reconhecimento de que somos autoridades detentoras de parte do poder estatal. Queremos nos ver livre da submissão administrativa.
Isso tudo é demonstrado de forma cabal na AGE e não é levado em consideração.
Creio que sou burro e muito louco, talvez eu esteja vendo o que não é,
alguém é capaz de explicar?
O potencial interlocutor deu as ferramentas e não vamos utilizá-las?

Fernando Ebling Guimarães disse...

Ao acompanhar o golpe de Estado que levou Napoleão III ao poder, na França do século 19, o alemão KarlMarx chegou a uma perturbadora conclusão: a história acontece como tragédia e se repete como farsa

Unknown disse...

O Exercício de Poder sem Justiça é o caminho mais breve para a decadência.

Adriano Battista disse...

Enviei ontem o seguinte e-mail institucional:

Assunto: Comunicado sobre adesão à Greve. Solicitação.
Enviada : 13/07/2010 07:11
Prioridade: Alta

Bom dia...

Comunico que resolvi lançar mão do direito de GREVE e oficialmente aderi à paralisação ontem, 12/07/2010, por motivações pessoais, muitas das quais se coadunam com aquelas que permeiam a insatisfação geral dos Peritos Médicos Previdenciários - especialmente os que trabalham na linha de frente do atendimento médico-pericial, lidando com requerentes agressivos, sem segurança, com sobrecarga de trabalho, cobranças excessivas, sob pressões diversas e constantes e sem apoio institucional.

Aproveito para solicitar o cancelamento do meu acesso ao Controle Operacional Médico. Agradeço ao nobre mestre e Colega Walter Garcia pelo treinamento de excelência a mim ministrado, mas as circunstâncias atuais impelem-me a abrir mão dessa atividade.

Caso não haja alterações significativas da conjuntura após o término da Greve, minha conduta final poderá culminar com um pedido de exoneração em caráter definitivo.

Na hipótese de um retorno meu às atividades, solicito que me sejam atribuídas atividades alusivas EXCLUSIVAMENTE AO ATENDIMENTO DE PERÍCIAS AGENDADAS NO SABI, com a distribuição das 18 perícias habituais durante as nove horas de permanência no serviço. Informo que não mais procederei à análise de processos.

Encerro com uma reclamação quanto à habilidade e a rapidez do RH (não me refiro ao RH de Sorocaba, que sempre foi muito pontual, eficiente e prestativo. Estou fazendo alusão ao RH geral) quanto a efetuar descontos na folha de pagamento - inclusive descontando os dias dos grevistas durante um movimento que foi considerado legal pelo STJ! Todavia, não demonstra a mesma eficiência para reposição de valores. Há três meses não venho recebendo o adicional de insalubridade.

Agradeço a todos pela atenção.



Respeitosamente,



A. A.
Perito Médico Previdenciário - SIAPE XXXXXXX

P.S.: Alguém disse certa vez: "Médico é como sal (...)". Eu digo: EMPREGO PARA MÉDICO É COMO AÇÚCAR!