segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CLÍNICAS DE "REABILITAÇÃO" TORTURAM INTERNOS NO RJ - NÃO É FATO ISOLADO.

O que está abaixo reportado ocorre diariamente em muitas clínicas país afora. Quadrilhas que tomaram posse dessa rede de "clínicas de reabilitação" ganhando fortunas do governo (via ONGs) para tratar os internados como se fossem presos de campos de concentração. 

E em muitos casos esses bandidos se sustentam despachando o internado em kombis para as APS em busca de um auxílio-doença. Despacham pois se forem esperar a perícia domiciliar irão à falência. E fica a eterna pergunta no ar: Se estão internados compulsoriamente (contra a vontade), como que podem sair da clínica para ir à APS? Se podem sair, podem ir de alta, certo? Se podem interagir com o INSS, podem se tratar em hospitais-dia e clínicas abertas, dentro dos preceitos da luta anti-manicomial, estou errado?

Portanto colegas, muita calma na hora de liberarem auxílio-doença em casos de "internados" em "clínicas psiquiátricas" que aparecem na APS pra passar em perícia. E como a reportagem detalha, não dá pra confiar nos laudos psiquiátricos apenas. Em muitos casos esses laudos, bem como os remédios, são "telefonados". 

Se está internado, é porque não pode sair de alta. Tem que pedir perícia hospitalar. Se pode sair pra ir na APS, então pode sair em definitivo e nesse caso o benefício "por estar internado" perde o sentido. Cuidado para não transformarem auxílio-doença em "auxílio-droga" ou "auxílio-ONG". Agora a reportagem, do Jornal O DIA (RJ):

"Internos sofrem castigos físicos e químicos em centro administrado pela Tesloo

POR JOÃO ANTONIO BARROS


Rio - "Chegou o bombeiro, chegou o bombeiro! Vamos acordar!" Os gritos, seguidos de baldes de água fria lançados sobre o rosto das crianças, funcionam como despertador para os 44 meninos internados na Casa Ser Criança, em Guaratiba.

Em um dos cinco centros de atendimento a dependentes químicos administrados pela Casa Espírita Tesloo, o batismo matinal serve como recado para os jovens não demorarem a sair da cama, como lembra o estudante C., 13 anos.

A lição foi tirada dos três meses que passou internado na ‘casa do terror’, como internos chamam o abrigo, aonde o menor chegou para se livrar do vício da cocaína e aprendeu que a desobediência poderia levá-lo a receber castigos físicos.


Casa Ser Criança, em Guaratiba, pertence à Tesloo | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia

Nenhuma moleza para C., que acordava entorpecido por um coquetel de quatro a cinco remédios — dois deles ingeridos à noite — e viu um colega ser amarrado e lançado na piscina como sanção por atraso. Não morreu por sorte.

Desacordado, teve que ser levado ao posto de saúde do bairro. A reclamação dos pais, desta vez, fez a direção da clínica se mexer, como lembra Monique Barbosa, mãe do menino J., que aos 11 anos passou pelo abrigo: “Transferiram o funcionário para outro setor e esvaziaram a piscina”.

As histórias da "falta de jeito" em lidar com menores usuários de drogas ilustram a ação civil pública que a defensora Eufrásia Souza, da Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, move na Justiça do Rio contra a internação compulsória.

“Falta gente especializada”, detalha Eufrásia, que numa visita aos centros gerenciados pela Tesloo se impressionou ao ver jovens dopados estirados no chão. Cobrou uma explicação do enfermeiro e soube que o psiquiatra da ONG prescreveu os remédios e, o mais surpreendente, por telefone.
“Só há um psiquiatra para todos os abrigos. Ele passa uma vez por semana em cada um. Na emergência, os enfermeiros ligam e ele passa o remédio”, informa a defensora. O chamado SOS — doses elevadas de tranquilizantes — também é ministrado como castigo para os fujões.

A constatação aparece no relatório da inspeção feita pela comissão multidisciplinar, a pedido da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

Além de administrar os mesmos remédios a todos os pacientes, eles detectaram que, nos casos de fugas e ‘rebeldia’, os menores recebiam duas injeções de Haldol (antipsicótico) e Fenergam (antialérgico). É o castigo químico.


Acolhimento compulsório é criticado pela defensora Eufrásia de Souza: "Falta gente especializada" | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia

Menores em abrigo não frequentam escolas

Enquanto sobram lições de abuso, falta frequência escolar aos menores abrigados nos centros da Casa Espírita Tesloo. De acordo com a defensora Eufrásia de Souza, poucos são os menores em tratamento de desintoxicação matriculados na rede pública, apesar de a internação dos jovens durar no mínimo três meses.

Obrigar a matrícula de todos os abrigados faz parte da carta de exigências proposta em ação civil na Justiça pela promotora Karina Fleury, da Vara da Infância e Juventude da Capital. A Tesloo nega os casos de maus-tratos e a administração generalizada de medicação, além das falhas na educação.

Histórico conturbado

A Casa Espírita Tesloo é presidida pelo major reformado da PM Sérgio Pereira de Magalhães Júnior, o xerife do recolhimento compulsório. Levantamento do DIA mostrou que o oficial participou das mortes de 42 pessoas entre 1999 e 2002, ocorridas em supostos tiroteios com bandidos.

Os laudos cadavéricos das vítimas apresentam sinais de tiros disparados a curta distância na cabeça e peito. O oficial é investigado na 33ª DP (Sulacap) por envolvimento com o grupo de milícia de Magalhães Bastos e Sulacap. Sérgio nega a suspeita e diz que as mortes foram em legítima defesa.



Relatório relata punições sofridas por internos | Foto: Reprodução

Relatório lista punições

O relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj aponta que, em caso de fuga, os menores atendidos nos centros administrados pela Tesloo são castigados. Uma das "penas" é a aplicação de injeção com o chamado "SOS".

A medicação, que faz os jovens dormirem até por um dia inteiro, é prescrita pelo psiquiatra, que normalmente aparece nos abrigos uma vez por semana. Mas foram verificados casos de que os jovens têm os pés e as mãos amarrados.

Um comentário:

@luciomos disse...

Uma pessoa com câncer em tratamento de quioterapia pode sair do hospital e ir ao INSS fazer perícia , isso não significa que ele possa trabalhar. Um homem com uma perna engessada pode comparecer ao INSS, mas, a depender de sua atividade, não estar apto ao trabalho. Ignorar o fator gerador do pedido INCAPACIDADE LABORAL é ignorar a função da previdência.... Dependência química é doença incurável progressiva e fatal, e assim deve ser encarada pelos Srs. Perítos. Pode-se até exigir documentos extras para constatação de tal condição incapacitante, mas negar a doença é absurdo.