quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PONTO DE VISTA - A GUERRA "FILA"

A Palavra “Fila” que usamos no cotidiano vem do latim. Seria o plural de “Filu” e este significaria propriamente “Fio”. De onde se derivam outros vocábulos como: “filete”, “fileira”, “filamento” e “desfiladeiro”. A expressão: "A vida está por um fio" poderia ser mais utilizada pelos brasileiros. Mas é importante saber a diferença da tal palavra do radical grego “Phileo” ou “Filo” que significa "gostar" ou "se atrair". Este dá origem a outros vocábulos que, embora sejam gramaticalmente parecidos com a latina "fila", tem origem diferente como, por exemplo, algumas palavras portuguesas: "filosofia", "filatelia", "hemofilia" e com o nome de certa diretora de autarquia. Seria uma infeliz coincidência.

Pois bem. A Origem do significado de “Fila” é remota. Vem da vida na selva, quando grupos de homens invadiam a mata para que outros seguissem. Acredita-se que expressão fila indiana surgira no Brasil Colônia quando os portugueses observaram o comportamento nos Índios nativos. É marcante o fato de que em Portugal a nossa “Fila” quer dizer “Bicha”. Isso pode ser motivo de situações muito constrangedoras nos acordos de Brasil e Portugal tratando da matéria. Imaginem um acordo onde os Brasileiros prometem acabar com as “Bichas” do SUS e do INSS. Essa foi péssima mesmo, mas vamos ler o resto.

Pois bem. O Reino de Tupiniquim cresceu e o tempo passou. A palavra “Fila” resistiu ao tempo. Não estou me referindo ao pobre animal chamado de “Fila Brasileiro” que herdou o nome da expressão “Cão de fila”, de filar, ou "filhar", que significa um cão que agarra a presa e não larga. Estou me referindo a uma das mais respeitáveis instituições brasileiras, lado a lado com carnaval, futebol e bumbum bronzeado, para alívio e sobrevivência de alguns (como os vendedores de ingressos, quinquilharias e baganas) e para desespero de outros (usuários de serviços públicos e governo). Sim, a “Fila” é uma autoridade nacional. É patrimônio da nação.

Esta rindo? Eu também ri. Acontece que nem sempre a descoberta das origens das razões é algo divertido. No caso da fila da Previdência Social não é não. Esta gera gastos desnecessários ao governo que responde com aumento da arrecadação de impostos e irritação, impaciência e humilhação ao contribuinte. Não tem graça nenhuma e os Médicos da Previdência sabem disso. Já foi considerada tão importante que os Peritos do INSS se comprometeram um dia em unirem os seus esforços ao máximo para acabá-la. Tanto é verdade que propuseram e aceitaram na ocasião que metade do seu salário estivesse ligado a esta na edição da MP272 com a criação da GDAMP que  tinha relação direta com o tempo de espera na fila. A Carreira do Perito Médico do INSS chamava-se: “Uma carreira contra fraudes, filas e desperdício”. Infelizmente muita coisa mudou. Hoje está mais para "Uma carreira contra promessas não-cumpridas, acordos espúrios e má-gestão". 

Assumi o INSS num Pós-Greve e tive que enfrentar fila para poder entrar na primeira APS que trabalhei. Atendi tanta gente que perdi a conta. Como vários Peritos de 2005 e 2006, dei muito de mim para o Sistema. Fiz muitas horas extras, tive crises de tendinite, atendi quantidade além da agendada (24 perícias) e sempre cedia mais uma vaga para os carentes e debilitados. Havia o espírito da "Missão Institucional". Tanto que os Peritos Médicos trabalhando em conjuntamente com Administrativos do INSS inventaram e aperfeiçoaram a COPES, antigo “Datacerta”, exatamente pensando em combater as filas - Não é curioso que a Alta Programada seja combatida exatamente por entidades que sabem o mal que a "fila" pode trazer ao trabalhador? Na época vestíamos a camisa, hoje desbotada e rasgada, da “alma servidora”.

Em 2007 e 2008 a “pressão social” para manter o vício do sistema começou a produzir uma onda de “anti-peritismo”. Denuncismo contínuo, agressões físicas e morais graves, assassinatos e toda sorte de perseguição por Sindicatos organizados, políticos e facções internas da própria autarquia. Muitos destes interessados em manter as “Filas”, embora não assumissem publicamente. Este período foi marcado por um governo “em cima do muro”. Um governo que assistia a tudo, mas não defendia os seus servidores. Tentava amenizar a situação com promessas de melhoria. Neste período, a impressão que tenho, é que os peritos ficaram atentos e confusos sobre a real necessidade de se envolver com uma “missão institucional” porque, além de não verem reconhecido o seu esforço coletivo,  esta os expunha cometerem erros e mesmo infrações éticas, agora cada vez mais visados cobrados por órgãos de controle. Com sensação de abandono, agredidos moralmente e fisicamente, trabalhando em condições absurdas, desmotivados, vilipendiados, sob pressão sem precedentes e, pior, sem ninguém que os ouvisse ou defendesse, começaram a procurar sentido para darem tudo de si pela “Missão”. O Perito é o templário perseguido pela Igreja na Idade Média. Serviu-a, mas contrariou interesses maiores.

Foi criada a “fila” virtual do 135 pouco antes do governo ter escolhido um lado... que e infelizmente parece não ter sido o dos médicos. Prova inconteste foi a traição inesquecível de abril de 2008 na MP441 quando os peritos optaram por “não entrar em greve” a fim de receber melhorias que nunca aconteceram. Desde então a carreira passou lentamente a enxergar as “Filas” e a “agilidade no atendimento” como sendo um problema da “Gestão”. O governo neste momento cometeu, em minha opinião, o erro fatal. Ao invés de tentar resgatar a “motivação” do servidor perito sem “missão”, ele pareceu ficar do lado da “Omissão”. Pois é desde o fato do “congelamento” da GDAMP que coincide com o da carreira, raras e isoladas demandas da classe foram atendidas, quando foram, foram parcialmente. Em poucos meses ele perderia, com raras exceções, a “boa-vontade” do servidor. E isso tem um preço amargo em qualquer ambiente de trabalho.

Em 2009 impôs medidas repressoras como Ponto Eletrônico, que apenas aumentariam a distancia entre o que a instituição desejava e o que os médicos desejavam e, atos normativos internos incompreensíveis como o MEMO 42 piorariam a situação e aumentariam a progressão das exonerações. A situação de desconexão gestor/gerido estava tão gritante que houve discussão profunda sobre a saída dos Peritos de dentro do INSS tanto que os Peritos foram forçados a conseguir na Justiça o direito de não se preocupar com as “filas”. O direito de se preocupar com as normas internas de maneira literal e o “seu incompreendido trabalho”. O direito de não usar a “boa-vontade” de antes. E ganharam.

Em 2010, uma greve maciça, mal resolvida, demonstrara claramente a insatisfação das partes. Como resposta o governo planejou e terceirizou a perícia médica perpetrando um dos maiores fiascos da histórias. Primeiro pela luta desesperada para tentar encontrar “almas servidoras” fixando cartazes em ambientes médicos e ligando para ex-peritos. Depois porque as filas aumentaram ao invés de diminuírem – é curioso que ainda hoje, mais de 1 ano depois do término da greve ainda exista gestor que coloque a culpa da “Fila” nesta. Por fim, infelizmente a inabilidade política para gerir tem continuado em 2011 fazendo sofrer toda sociedade principalmente o pagador de impostos necessitado enquanto isso a “Fila” está cada dia mais distante do pensamento do Perito Médico Previdenciário já não se trata de batalha, e sim de uma Guerra Fria. Ou melhor, “Guerra Fila”.

Um comentário:

Snowden disse...

150 milhões de brasileiros dependem do SUS pra se tratar. O que aconteceu? Nada. O sistema esta capenga! Fila por lá, até parece piada...no INSS nao e diferente, 40 milhões dependem dele...a fila virtual incomoda pois o MP "fica na pressão", mas só neste, diferente de sua postura naquele pois aí teria que cobrar de políticos pelo cumprimento do destino correto das verbas e seria um pandemônio...se nao valorizarem a profissão do medico o caminho do INSS será o mesmo do SUS ou será que nao enxergam isso?ninguém quer trabalhar de graça, sem valorização, sem segurança e sem ambiente de trabalho salutar, nao e verdade? se a proposta de trabalho fosse boa, nao existiriam tantas exonerações, as "sucursais" do INSS ( tribunais de justiça) nao estariam abarrotadas de processos e nao existiriam filas! E muito fácil pro burocrata que trabalha no escritório com ar condicionado querer cobrar do trabalhador por metas, sem organização do trabalho e na base da pressão! "vai lá companheiro e faz meu trabalho..."