segunda-feira, 26 de novembro de 2012

“Só queria provar que podia trabalhar”


Eliana procurou o INSS para solicitar que suspendessem aposentadoria por invalidez

Maíra Azevedo

Após sofrer um derrame, Eliana de Souza Silva, 50 anos, ficou com o lado direito do corpo paralisado e teve a fala e a locomoção comprometidos. “Foi um choque para mim. Não tinha completado nem 30 anos e era super independente. Entrei em depressão, achava que iria morrer”, conta ela, emocionada.

Sem condições de trabalhar, vivia de doações de parentes e amigos até ser encaminhada ao INSS e submetida à perícia médica. Foi considerada incapaz e passou a receber a aposentadoria por invalidez. Foram dez anos recebendo o beneficio no valor de um salário mínimo.

Mas Eliana queria mais. Achava um peso ter que carregar o carimbo de incapaz em seus documentos. Voltou a estudar, fez vários cursos e se formou em técnica de enfermagem. Decidiu voltar ao batente.

Em 2008, se inscreveu como deficiente no concurso da Prefeitura Municipal de Salvador para agente de combate às endemias. Foi aprovada nas primeiras posições. “Ao ver meu nome no Diário Oficial, me senti a mulher mais feliz do mundo”, conta.

Com o Diário Oficial em mãos, Eliana voltou ao INSS para pedir a suspensão da aposentadoria por invalidez. Mas, para sua surpresa, o pedido não foi acatado. “Imagine! Eu tinha que provar o tempo todo que tinha condições de trabalhar e que não queria mais depender do governo federal’’.

O que acontece no INSS?

O Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) é um dos órgãos do governo federal onde mais existem tentativas de fraudes. Todos os dias, a perícia médica e social nega milhares de pedidos, solicitando aposentadorias ou outros tipos de benefícios. Existem até quadrilhas, espalhadas pelo País, especializadas nesse tipo de crime. Uma auditoria realizada em 2009, pelo Tribunal de Contas da União, levantou suspeitas sobre 3,2 milhões de benefícios concedidos pelo INSS. Também há 3.700 benefícios pagos com valores superiores ao teto legal. Talvez por isso Eliana de Souza se tornou uma referência de honestidade e sensatez. “Eu sei que tem muita gente que precisa mais do que eu”, justifica.

Sem limitações

Para conseguir suspender o beneficio do INSS, Eliana precisou ir até o órgão seis vezes. Passou por exames médicos e psicológicos e uma conversa com a assistente social. “Parecia que eu queria uma coisa do outro mundo e eu apenas querendo mostrar a minha capacidade, ser útil”. Hoje, Eliana exerce uma função adminstrativa no Centro de Controle de Zoonoses, distrito do Imbuí, e ganha três vezes mais que como aposentada. “Foi uma provação! Sofri muito, mas me sinto uma vitoriosa. Quando todos me disseram para desistir, eu segui em frente”. As sequelas do derrame não se transformaram em barreiras. Ela trabalha, estuda, participa da entidade de classe da sua categoria e ainda faz planos de adotar uma criança. “Já preenchi toda a documentação e agora estou aguardando. Quero poder ter alguém para deixar minha história e o meu legado. Terei meu filho ou filha. Com a minha luta, construi muita coisa”, diz ela, que mora sozinha no Arraial do Retiro.

2 comentários:

Francisco Cardoso disse...

O fato da pessoa querer se desaposentar por invalidez não necessariamente quer dizer que ela está apta. É dever funcional da perícia verificar se de fato o desejo está de acordo com a realidade.

Mas, será que se ela não tivesse arrumado essa função pública no Centro de Zoonoses ganhando TRÊS VEZES MAIS que a sua aposentadoria, será que ela teria insistido tanto assim para ser desaposentada?

E se ela for demitida, será que procurará o INSS de novo?

Veremos.

Francisco Cardoso disse...

E lanço outra aposta: Assim como disse há 3 anos que em 100% dos casos de queixas contra peritos é porue houve indeferimento do pedido, e até agora estou esperando uma queixa de "humilhação" vinda de quem foi aposentado, lanço outra:

EM 100% DOS CASOS, quem insiste com o INSS para CESSAR a aposentadoria é porque arrumou emprego público com salário superior e a aposentadoria está impedindo a posse.