quinta-feira, 26 de julho de 2012

CONSELHO DE ENFERMAGEM USA GESTANTE PARA FAZER GUERRA IDEOLÓGICA CONTRA MÉDICOS

A atitude do Coren-RJ em querer reverter na justiça uma decisão soberana do Cremerj mostra que há muito tempo o paciente deixou de ser o alvo da preocupação dos enfermeiros, pelo menos nos seus conselhos oficiais.

O sectarismo que toma conta da entidade é tão grande que em sua eterna luta para antagonizar os médicos (não sei bem por que pois na hora "h" todos afinam e correm pro "doutor") o foco deixou de ser a saúde e o paciente e virou apenas uma guerra ideológica contra a medicina.

O episódio narrado pelo Coren é pro início de conversa ridículo pois a decisão do Cremerj não impede a existência do parto domiciliar, apenas proíbe médicos de sustentarem essa aberração em pleno século XXI. Se a mulher gestante for louca o suficiente para arriscar um parto desses que o faça, mas sem médicos pois se trata de conduta antiética já prevista no nosso código, o Cremerj apenas reforçou esse recado.

Ora, se os médicos não vão mais fazer, abre-se um enorme campo de trabalho para os enfermeiros obstetras, ou estou errado? Se os médicos são "medicalocêntricos", se o parto é algo tão "normal que qualquer pré-natal assim o diz", se o parto domiciliar é "moleza e o ideal", que os enfermeiros o façam, ora bolas! Onde que a decisão do Cremerj afeta os enfermeiros?

O Cremerj não manda nos enfermeiros. Se o Coren acha que pode ter parto em casa, que eles façam e ASSUMAM as conseqüências de seus atos.

Aqui está o "X" da questão: Nessa guerra ideológica, os enfermeiros querem ser tratados "que nem os médicos", ganhar "que nem os médicos" e terem o mesmo reconhecimento "que os médicos" mas NÃO QUEREM ASSUMIR AS CONSEQÜÊNCIAS DE SEUS ATOS. Não querem assumir um erro, um óbito, nada.

Ora, querem respeito mas não querem assumir o ônus que esse respeito traz. Assim até eu.

O real motivo da ação desesperada do Coren não é "defender a mulher e o parto", esqueçam isso, é puro factóide. O motivo é que sem médico do lado, o discurso de que o "enfermeiro também pode tudo" cai por terra, pois todos entrarão em pânico ao ver que estão sozinhos numa casa, sem suporte hospitalar, e sem médico pra "dar um jeito".

É esse o pânico que leva o Coren a entrar na Justiça para uma causa quase impossível e proferir mentiras como a que "A OMS defende o parto domiciliar" e que os médicos querem "medicalizar a vida". Ledo engano, a OMS defende um menor número de cesáreas (sem estudos que embasem seus motivos) mas parto domiciliar não é a opção à cesárea e sim o parto natural em ambiente hospitalar. E os médicos não querem medicalizar a vida, quem quer isso é a sociedade, por isso exigem cada vez mais médicos e reclamam do longo tempo de espera para conseguir uma consulta, pois confiam no saber médico.

A enfermagem nasceu da ânsia da sociedade por cuidados e pela falta de médicos para suprir essa demanda. Por muito tempo trabalharam separados: médicos para ricos e enfermeiros para pobres. A estatização da medicina no Brasil republicano uniu esses profissionais, cada um no seu saber e na sua obrigação. Por muito tempo houve harmonia nessa relação, mas a ideologia foucaultniana pós-segunda guerra pseudo-marxista que culpa o saber e condena o poder deteriorou essa relação.


A enfermagem se afastou tanto da saúde e do paciente que é mais importante hoje em dia lutar contra o médico (vide a gana deles contra a Lei do Ato Médico, que em nada mudará a vida do enfermeiro) do que se qualificar. Infelizmente a enfermagem no Brasil está a anos luz da qualificação da enfermagem européia ou norte-americana. Óbvio que existem exceções.

E essa mistura macabra de ausência de qualificação com ideologia libertária explica porque ao mesmo tempo que querem o mesmo "poder", temem assumir o que querem, pois sem qualificação o medo toma conta quando percebem que estão ausentes os elementos a quem pedir socorro, os médicos.

Esse discurso ideológico sectário dos conselhos de enfermagem precisa ser denunciado. Chega de fazer vítimas em nome do ego coletivo. Recentemente uma das maiores defensoras do parto domiciliar morreu em casa num desses partos. As artistas que aparecem nas revistas fazendo partos assim omitem que na sala do lado existe toda uma "uti" montada e a postos, coisa que meros mortais jamais poderiam bancar.

Essas artistas fazem um desserviço à nação e indiretamente são responsáveis por cada óbito ou sequela que esses partos irresponsáveis deixarem.

É bom lembrar que parto domiciliar não é 100% mortal, a cerca de três gerações passadas a maioria das pessoas nascia assim. O problema é que a mortalidade materna e infantil eram altíssimos, beirava os 40% em algumas regiões. Nessa época, a expectativa de vida da mulher era menor que a do homem, não passava dos 40 e poucos anos.

Hoje em dia, com toda a tecnologia disponível tanto para a cesárea como para o parto vaginal em ambiente hospitalar torna inaceitável e irresponsável que se aceite os riscos de mortalidade que o parto domiciliar representa apenas para atender aos caprichos de uma mãe irresponsável que coloca o seu prazer acima da segurança de sua prole.

A questão do parto há muito virou ideologia política, pois está no meio do discurso da libertação feminina na sociedade. A questão da cesárea idem, pois envolve mecanismos de poder, já que se enfermeiros fossem habilitados a fazer cesárea, subitamente "não seria exagero nenhum" fazê-las.

Está na hora do Coren deixar de ser um partido político, ideológico e sectário, e voltar a olhar para quem sempre deveria ter sido visto: os pacientes e os seus enfermeiros, que vivem abandonados nos hospitais da vida, explorados e sem nenhum, repito, NENHUM suporte de seus conselhos.

4 comentários:

Unknown disse...

No ato médico, onde não se discute teses, mas a vida, antônimo de morte concreta. O Médico não pode se despojar de sua legislação, ou seja, não pode querer fugir de sua responsabilidade, das mais importantes na saúde, para se esconder atrás dessa tal opinião laica/oportunista de pretendentes a médicos .
Bob Jff

HSaraivaXavier disse...

Parto em casa é igual viajar sem cinto de segurança, mais gostoso, mais confortável e com mais liberdade até que um dia raro se precisa. Aí.... Morreu confortavelmente...
Melhor escapar incomodada...

Airton Jr. disse...

Quem Pare Mateus que o embale...

Querem bônus sem ônus...

Carol Balan disse...

Parto em casa é aprovado pela OMS, é realidade em países desenvolvidos, como a Holanda, onde parteira e médico sabem qual é o seu lugar; e aí aqui no Brasil, a discussão ainda fica essa picuinha e essa discussão totalmente sem embasamento! Terrível! Eu tive um parto hospitalar cheio de intervenções e um domiciliar, não recomendo o primeiro a ninguém. Os riscos existem em qualquer lugar e há estatísticas que afirmam que parto em hospital não tem mortalidade menor do que parto domiciliar. Além disso, qualquer parteira experiente sabe o quanto pode seguir com aquele parto ou se deve encaminhar para um hospital. Parto é fisiológico, não é doença. O médico deve agir quando o parto deixa de ser um evento natural.