sexta-feira, 30 de março de 2012

A CRISE NÃO É DE REPRESENTAÇÃO

Quem representa a categoria dos peritos médicos previdenciários? Quem fala por eles? Essa é a pergunta que muitos têm feito. Seria a associaçãozinha picareta, nas palavras do presidente do INSS (segundo revelou um dos dirigentes da própria associação), seria a FENAM, seria a CUT, seria o sindicato, seria a ANASPS ou o SINDSPREV? No momento, senhores, nenhum deles. A associaçãozinha pelegou de vez e não tem apoio dos filiados, segundo os próprios escrevem diariamente nos fóruns da entidade. A FENAM não é um sindicato e não conhece as necessidades específicas dos peritos médicos. Os sindicatos que a compõem têm abrangências regionais, não podendo resolver as questões nacionais. O sindicato dos peritos se vê embrulhado em emaranhados burocráticos e, efetivamente, ainda não existe como tal. As entidades gerais de servidores não se ocupam de uma parcela diminuta e pouco representativa politicamente para eles.

Mas o problema dos peritos não é exatamente de representatividade. Quem representa precisa levar a pauta dos representados e os peritos não chegam a um acordo de pauta. O debate rasteja na discussão de carga horária. O presidente Hauschild, certa vez, disse que os peritos não sabem o que querem. Há certa verdade nisso. Se partirmos da realidade de baixo salário, baixa valorização, sujeição a violências e ameaças e tomarmos isso como realidade imutável, é natural que se queira a menor carga horária possível e se lute por isso. Entretanto a realidade só é imutável para quem deseja o aniquilamento de uma carreira cujo trabalho gera muitos desafetos por sua própria natureza. São esses que sorriem ao verem mais um perito exonerando-se a cada dia. Mas pergunte a esse perito se ele discutiria a jornada mínima de trabalho ou se exoneraria caso tivesse uma carreira atraente, remuneração fixada por subsídios em 90,25% dos ministros do supremo (meta de outras carreiras fiscais, no momento), autonomia técnica e carga de trabalho compatível.

Se os peritos não sabem o que querer, não se tem dúvida da causa disso: O INSS e o Governo também não sabem o que querem, ou sabem e não assumem. À população só se fala de direitos, deixando aos peritos a exclusiva responsabilidade de dizer o não. Por isso ainda são necessários os peritos. Apenas para isso, buchas de canhão. Parece que é preciso alguém para dizer não e a imagem desses desalmados não pode ser confundida com a imagem do governo. Simples assim. Sendo essa a intenção, e tudo o mais enrolação, é totalmente compreensível que os peritos desejem ver a porta da rua o quanto antes.

A carreira que desagradou Lula com uma greve estúpida em 2010 passou a ser mais perseguida e salgada como foram as terras dos inconfidentes. A carreira conquistada com suor e sangue no início da década passada se desmaterializa no exonerômetro. A democracia vai perder uma conquista que fortaleceu o Estado que passou a ter maior equidade e justiça no amparo previdenciário da população. Caminhamos a passos largos. Uma pena.
A crise é de liderança médica, por um lado, e de honestidade patronal, por outro.

4 comentários:

Eduardo Henrique Almeida disse...

Para quem não percebeu, o novo modelo proposto por Hauschild, transfere a terceiros as perícias "filé" e que seriam favoráveis.
Os peritos são pagos para dizer o não e ninguém, muito menos a CUT (que é governo) quer ser confundida com esses desumanos. Entretanto, cada vez mais, a eles é reservada a indispensável missão do não.
Se o projeto Hauschild vingar, chegará o momento em que 100% das perícias serão contrárias. Alguém imagina a saúde mental desses servidores que só dizem não?

HSaraivaXavier disse...

Triste é ver a nova geração de peritos desmotivada. Insistir também cansa.
Colegas geniais saem diariamente. Os que ficam, desconfiando ou tendo certeza da mesmice, dedicam-se a seu lado "médico assistente". O governo parece manter a categíria sitiada - como nas guerras antigas. Privada de suprimentos para crescer e sem alternativa senão resistir minguando à morta fome ou a fuga. O governo quer a perícia tome sopa de garfo e faca. O déficit da previdência cresceu 47% este ano, quando não conseguir mais frear chamam ou usam os peritos. Estou quase lutando pelo fim da carreira. Covardia é querer "quase matar", "quase afogar" ou "quase gostar disso". A perícia ouve em qualquer debate sobre sua importância jurídica e social. O próprio povo reconhece a necessidade de uma BOA perícia. Não há mais o que ser apresentado. Lidamos com o patrimônio do trabalhador, julgamos requerimentos, denuciamoa bandidos e somos ameaçados diariamente. O governo manda pra guerra soldado com uma pedra e um copo d'água e quer resultados. Ou se investe na carreira ou se mata. É o que defendo atualmente. Simplesmente o "encimadomurismo" e a falta de vontade política estão insuportáveis. O perito escapa para sua atividade medica Assistencia. Quem mais sofre é o trabalhador individual e coletivo que tem umA perícia sem resolutividade e ineficiente.

Francisco Cardoso disse...

Artigo irrepreensível que condensa com poucas e duras palavras toda a realidade que vivemos.

Por um lado a omissão, descaso e desonestidade do Governo.

Do outro,a desorganização de classe e o desestímulo diante da falta de projeto, salário e condições.

Uma verdadeira bola de neve, que vai explodir no colo do contribuinte quando a perícia sucumbir ao boicote governamental.

Esta é sucintamente a crise que vivemos. E que o último apague a luz, se ainda houver uma.

Rodrigo Santiago disse...

Eduardo, este teu texto traduz meus sentimentos nos últimos dias.Estou muito desanimado com tudo o que está acontecendo faz tempo e sem perspectiva de mudança.Para mim só tem uma saída: fazer o que fizeram para ser criada a carreira.Ou ganhamos o respeito e valor que merecemos e que a sociedade de um país que pretendesse ser sério mereceria ou não há mais razão para existir ou ficar por aqui.