sábado, 14 de janeiro de 2012

ROTINA DO ABSURDO - Facas e Ameaças Constantes

"UM SEGURADO HÁ DOIS DIAS ATRÁS ENTROU NO CONSULTORIO ONDE ESTAVA ATENDENDO UMA PERITA ARMADO DE FACA, A AMEAÇOU , POR SORTE NA APS XXXX TEMOS SAÍDA DE ESCAPE E OS VIGILANTES PATRIMONIAIS NOS AJUDAM BASTANTE , ESTA CONSEGUIU ESCAPAR SEM TRAUMAS FÍSICOS, PORÉM BASTANTE ABALADA , FOMOS CONVOCADOS EM JUNTA (SST-XX ) DO QUAL FAÇO PARTE, FIZEMOS A AVALIÇÃO EM JUNTA COMPOSTA POR TRÊS PERITOS (***) E VERIFICAMOS QUE O MESMO ESTAVA COM INDÍCIOS DE SIMULAÇÃO E NÃO COMPROVOU INCAPACIDADE LABORATIVA, SE COMPORTOU ADEQUADAMENTE DURANTE O EXAME E RECEBEU A CRER (comunicação formal do resultado do requerimento feito pelo pleiteante ao benefício) COM ALTA NO FINAL DA PERÍCIA. SEGURADO EMPREGADO RETORNOU HOJE AGREDINDO A TODOS QUE ESTAVAM TRABALHANDO E FALOU "VOU COMPRAR UM REVOLVER PARA DERRUBAR DOIS MÉDICOS". ESTAMOS ADOTANDO TODAS AS MEDIDAS LEGAIS PARA QUE ESSE AGRESSOR SEJA REALMENTE PUNIDO PELOS SEUS ATOS , TIVEMOS APOIO DA ANMP, DA GERÊNCIA XXXX, DE TODOS OS COLEGAS E DO NOSSO DELEGADO XXXX XXXX, VAMOS ATÉ O FIM PARA ACABAR COM A IMPUNIDADE.PRECISAMOS CADA VEZ MAIS LUTAR POR NOSSA CATEGORIA , AFINAL SOMOS A MÁQUINA QUE MOVE O INSS.ABRAÇOS A TODOS.XXXX XXXXX "

Perito médica - Região IV

(***) Cabe aqui uma reflexão sobre o fato de outros peritos da mesma APS terem admitido e aceito ainda realizar a perícia do segurado agressor de sua colega próxima do mesmo ambiente de trabalho.É claro que a decisão é de foro íntimo de cada perito, afinal somente cada um é que sabe o quanto o evento da agressão pode ter repercutido em seu íntimo de maneira a abalar a sua imprescindível imparcialidade e isenção na hora de fazerem o julgamento e de se convencerem sobre o direito ou não ao benefício.É certo, também, que, de maneira ética e fundamentada, pudessem renunciar ao atendimento e à realização da referida perícia na mesma APS em que uma colega fora agredida.

Outro ponto importante a destacar aqui é sobre o tratamento diferenciado dispensado pelo governo aos trabalhadores do setor público em comparação àqueles do setor privado quando se trata de perícia médica.Os trabalhadores do RJU (setor público) quando estão doentes e pleiteiam benefícios por incapacidade - e, portanto, necessitam passar por perícia médica - obrigatoriamente têm que passar SEMPRE por perícia em JUNTA MÉDICA composta de, no mínimo, dois peritos quando a incapacidade laborativa implicar em afastamento do trabalho por mais de 120 dias.

Por outro lado, quando trata-se de perícia feita em trabalhador do RGPS, que é a perícia feita pelo perito do INSS em trabalhadores do setor privado, a perícia SEMPRE é feita por um único perito, mesmo que seja para concessão de aposentadoria por invalidez ou ainda que sejam benefícios longos de auxílio-doença com anos de duração.Claramente, percebe-se uma distinção na forma, rigor e critérios com que o governo trata os trabalhadores que precisam de passar por perícia no INSS e no setor público.É demais óbvio perceber que o "rigor" é bem maior com o trabalhador do setor público.Ou seria mais correto dizer que a falta de rigor é muito maior em relação ao trabalhador que precisa passar por perícia no INSS a tal ponto de abolir a necessidade de o mesmo ter que passar por perícia, conforme o novo Modelo de Perícias da Previdência, que pela segunda vez teve adiado o início de sua implantação e execução?São modelos diferentes que estabelecem formas diferentes de tratar os trabalhadores e os peritos.

É este ponto que gostaria de chamar a atenção.Um ofício extremamente penoso intelectualmente pela sua intrínseca complexidade como é a perícia médica, seara na qual muitos acham que podem dar pitacos e desmerecer uma decisão pericial, maculando a imagem do perito perante a sociedade, estimulando a violência, muitas vezes porque não tem conhecimento de medicina ou de leis para poder fazer uma crítica, e quase sempre fazendo uma crítica leviana e covarde - porque não procuram o perito para explicar as razões do indeferimento sumariamente criticado por uma notícia da mídia - precisa estar melhor "aparelhada" técnica, funcional e moralmente para o seu mister.A categoria de peritos médicos precisa, pelo grau de sua responsabilidade social, ter o reconhecimento da sociedade.Mas, para auferir este reconhecimento é necessário, antes, ter o reconhecimento e apoio da Instituição e do governo.Quando é que o governo vai reconhecer que é necesário reconhecer a importância da perícia médica e que, sem isto, é impossível prestar um bom serviço à sociedade e fazer justiça social?Para isto tem que pensar um modelo de perícia forte no sentido de valorizar mais a qualidade do que a quantidade, de valorizar o servidor público treinado e capacitado, e não o terceirizado, de defender o seu patrimônio quando o perito é agredido física e verbalmente, e não de fingir que isto é algo banal ou de se omitir em tomar atitudes dando implicitamente um recado estimulador a mais agressores de que o perito é mesmo malvado e que merece, portanto, apanhar.

Nada justifica a violência.O pleiteante a um benefício indeferido tem várias opções de recurso dentro e fora do INSS.Se há em alguns lugares demora administrativa ou judicial em se analisar os pedidos de recurso a culpa não é dos peritos, é da gestão.Portanto, o segurado deveria exercitar sua ira contra os gestores, e não contra os peritos.Não adianta tentar obter o benefício no grito ou na força.Sobram gritos contra os peritos e falta coragem para gritar contra quem tem a força para mudar as coisas para os peritos e para a sociedade.Acorda, povo!

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