quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

MENSAGEM DE ANO NOVO AOS MÉDICOS

Aos colegas vilipendiados por uma mídia progressista e cínica que imputa a nós os males da omissão do Estado Babá na Saúde Pública:

Médico é um trabalhador como qualquer outro, hoje em dia mais assalariado que nunca. Médico não é Sacerdote nem tem uma Igreja que o sustente para poder trabalhar de graça para os outros.

O Juramento de Hipócrates não é o Juramento de São Francisco de Assis, apenas lembrando que médico não faz voto de pobreza e sim voto de lealdade ao paciente e à profissão. Não cabe ao médico, como pessoa física, sacrificar seu trabalho, saúde e vida profissional para resolver o problema do Estado omisso. Cabe ao Estado, esse sim real culpado, garantir as devidas condições de trabalho ao médico pois a população exige médicos para atendê-los. 

Todo trabalhador tem sonho de crescimento profissional e acumulação de patrimônio. Vivemos em um sistema capitalista e não há outra escolha de sobrevivência. Não é vergonha nem pecado cobrar por seu atendimento, muito menos exigir as devidas condições legais de trabalho que a lei garante a todos os outros brasileiros.

A pessoa que abre mão de salário, carreira, família e condições de trabalho para fazer um trabalho assistencial, de caráter benevolente, caridoso, imaterial, faz isso por meras convicções pessoais. É um altruísta. O altruísmo é uma característica individual e um dom intransferível. Não se pode exigir altruísmo de uma pessoa. Altruísmo forçado não é humano nem digno, é escravidão e exploração de mais valia.

As pessoas que exigem que os médicos "sujem os sapatos", ou seja, abram mão de condições de higiene, saúde e segurança para atenderem nas áreas desfavorecidas, sem nenhuma contra-partida, são cínicas, pois fazem isso do alto de seus apartamentos climatizados e tecnologicamente equipados e não estão dispostas a fazer , elas mesmas, o mesmo tipo de altruísmo.

O médico é um trabalhador normal, como você é e milhões de outros são e em sua grande maioria não aceitam e não devem aceitar condições desumanas,  ausência de garantias trabalhistas e legais, sem condições de abrigar sua família e outras omissões do Estado apenas por ser médico. Esse discurso é falacioso, quem defende isso não o faz em sua própria profissão, pois onde falta médico também falta engenheiro, enfermeiro, advogado, Juiz, padeiro, mecânico, encanador, dentre outros.

Durante séculos a elitização do curso médico nos deu uma áurea de "profissionais liberais" dotados de alto valor agregado e moral, que podiam cobrar dos ricos e doar aos pobres, como nossos professores de Faculdade, que cobravam caro dos ricos em seus consultórios e doavam seu trabalho uma ou duas vezes na semana nas enfermarias das Santas Casas.

Essa Era acabou. Os médicos liberais são a minoria, pertencem a um grupo muito seleto, incensado pela mídia, que exercem uma medicina ao qual chamamos de grife, custeada a caríssimos honorários particulares que lhes permitem ainda poder exercer esse modelo antigo.

A realidade do médico, hoje em dia, com a estatização da medicina e com a proletarização do médico feita pelas empresas de saúde (planos e hospitais) é a de um trabalhador assalariado, pago por hora/produção e não por seu "valor agregado", com o dever de cumprimento de tarefas e horas em serviço, sem liberdade de ter seu horário pessoal. Mesmo os que mantém consultórios são em sua grande maioria presos às exigências dos planos que praticamente controlam a demanda de pacientes atuais.

Quem exige trabalho médico de graça tem que, no mínimo, dar seu trabalho de graça ao médico. Fora desse contexto, trabalho feito é trabalho pago. Não somos diferentes de ninguém, a única diferença é que em caso de emergência, devemos primeiro atender e depois resolver os custos. Fora isso, somos seres humanos trabalhadores protegidos pela Constituição como qualquer outro neste País e se quisermos respeito temos que começar a se comportar como tal.

O médico tem o dever de se aperfeiçoar profissionalmente para atender sempre melhor, o dever de proteger sua família e construir um patrimônio que o garanta no alvorecer de sua vida. E a sociedade (incluindo nós, médicos) tem o direito de ter acesso a uma medicina de qualidade e um sistema de saúde de qualidade. Para isso, ambos devem parar de cobrar um do outro e apontar as armas para o verdadeiro inimigo da Saúde e dos Médicos no Brasil: O Estado brasileiro.

Um comentário:

Airton Jr. disse...

Simplesmente perfeito...Como sempre!