quinta-feira, 28 de abril de 2011

PELEGUISMO CUT - Sindicatos financiados pelo patrão

Festa cara para esconder a falta de pauta combativa
Valor Econômico - 27/04/2011 

Cerca de dois milhões de trabalhadores são esperados para as comemorações do 1º de Maio, em São Paulo, organizadas pelas seis maiores centrais sindicais do país. No momento em que a economia praticamente atinge o patamar do pleno emprego, sem dúvida não faltam motivos para comemorações. Mas para além dos shows e dos sorteios programados para atrair o público trabalhador aos eventos, o momento também exige reflexão das centrais sindicais.

A festa unificada da Força Sindical e outras quatro centrais terá shows de artistas populares como Zezé Di Camargo e Luciano, telões de alta definição e mil seguranças contratados pela organização. A CUT, por seu turno, planejou uma festa temática cujo slogan é "Brasil-África". Entre outros eventos está prevista uma feijoada com roda de samba para 30 mil pessoas no Vale do Anhangabaú. Como convidado especial, o ator Danny Glover, que atuou no filme "Máquina Mortífera", um ativista de causas que envolvem o continente africano.

Já não é de hoje a discussão sobre a perda de combatividade do movimento sindical, capturado pelo governo no laço das verbas e dos cargos federais. Prova disso é um estudo da cientista política Maria Celina D"Amaral, segundo o qual 42,8% da cúpula dos cargos de confiança federais são ocupados por sindicalistas. No entanto, os festejos organizados pela CUT, Força Sindical e outras quatros centrais de menor expressão serão em boa parte financiados por empresas estatais como a Petrobras.

O custo estimado para os dois principais eventos previstos é de R$ 5 milhões. A festa da Força Sindical e outras quatro centrais (UGT, CTB, CGTB e Nova Central) deve custar algo entre R$ 2,5 milhões e R$ 2,7 milhões. O convescote da CUT, outro tanto.

A Petrobras deve entrar com R$ 600 mil, a serem divididos pela CUT, a central ligada ao PT, e as outras cinco centrais capitaneadas pela Força Sindical, área de influência do PDT. Outras estatais negociam cotas de patrocínio, entre elas a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e a Eletrobras.

As centrais sindicais também procuram cotas de patrocínio com empresas privadas, entre as quais destacam-se Bradesco, Itaú, BMG, Casas Bahia, Pão de Açucar, Carrefour e Brahma.

Certamente não é a falta de dinheiro que leva as centrais a buscar o patrocínio das empresas privadas e estatais. Especialmente a CUT e a Força Sindical, que ficaram com a maior fatia dos cerca de R$ 100 milhões do imposto sindical obrigatório repassado, ano passado, a essas entidades, graças à lei sancionada por Lula que destinou 10% do imposto sindical obrigatório para as centrais. Um dinheiro sobre o qual as centrais não são obrigadas a prestar contas, de acordo com a legislação votada no Congresso sob os protestos da oposição.

Merece também a reflexão das centrais a maneira com que foram surpreendidas pelos conflitos trabalhistas nas obras do PAC, especialmente nos canteiros das usinas de Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira. O crescimento econômico apresenta desafios novos nem sempre bem compreendidos pelas centrais sindicais, como demonstra a greve dos trabalhadores nos confins da floresta amazônica. Outros desafios estão à vista com o anúncio de megainvestimentos estrangeiros no país.

As centrais, aparentemente, não conseguem acompanhar a dinâmica do crescimento. A agenda de todas elas é a mesma do período de marasmo econômico do país. Seus principais itens são a redução da jornada para 40 horas semanais de trabalho sem redução de salários, o fim do polêmico fator previdenciário e a valorização das aposentadorias e do salário mínimo.

Essa é a agenda pública. Mas a pauta que realmente move o interesse das centrais, no momento, é a procura por uma alternativa ao fim do imposto sindical obrigatório - aquele dia de trabalho descontado de cada empregado com carteira assinada no último mês de março.

Historicamente, a CUT sempre se posicionou contrária ao imposto obrigatório, mas nada fez para mudar o status quo nesses quase nove anos de governo do PT. Agora, a central petista voltou a defender a tese do imposto voluntário, em contraposição à Força Sindical, sua principal adversária no meio trabalhista. É pouco para quem já esteve na vanguarda da defesa dos direitos dos trabalhadores.

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