segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Overbooking Previdenciário

"Overbooking" é uma palavra inglesa que, exatamente por não ter uma tradução adequada na língua portuguesa, é utilizada na sua língua de origem. Significa uma situação em que se ultrapassa o agendamento de marcações para determinado serviço. É historicamente relacionado à emissão em excesso de reserva de quartos de hotéis ou bilhetes de passagens terrestres e aéreas. As vítimas do Overbooking  passam por momentos inesquecíveis vexatórios, constrangedores e aviltantes. No Brasil, a palavra ficou associada ao Caos da Aviação Civil ainda em moda pela iminente greve dos aeroviários.
Agora, pense comigo: “Mas como é possível ocorrência do OverBooking se o número de acentos é conhecido previamente e números são exatos?”. Duvida interessante. “Ora, se eu tenho 100 assentos porque vendo 120?” Aí é que entra o grande segredo. As empresas aéreas capitalistas pensando em ter menor prejuízo possível, vendem mais passagens aéreas que o número de acentos porque contam com a média de desistência dos vôos anteriores similares e pura sorte. O problema ocorre quando as pessoas que deveriam desistir não desistem.

E o que isso tem a ver com a perícia?

É que hoje nós vivemos o Overbooking previdenciário. Ele ocorre diariamente no INSS - empresa que tem vendido sistematicamente mais passagens que o sistema pode suportar e quer que a máquina trabalhe no limite da tolerância. Ela é pública, mas também, como as privadas, conta com a média das desistências dos agendamentos de perícias, com possíveis ocorrências de casos raros de múltiplos benefícios de fácil analise – como Pós-Operatórios e Fraturas em geral – e principalmente com possibilidade de existirem médicos que consigam atender o excesso em troca de posições politicas confortáveis. Para o INSS parece não importar se sobrarem segurados famintos, cansados, sedentos e irritados. É mesmo verdade. Sem nenhuma regulação qualquer Poder voa livremente entre as nuvens da sua própria vontade. Ah! É só botar a culpa nos médicos. Infelizmente a questão gravíssima parece ser tratada como um mero Efeito Colateral do Programa de Eficiência Máxima da Gestão. O raciocínio simplista do problema resume-se a: “Nós marcamos o máximo de exames possíveis e os que sobrarem - infelizmente são remarcados”. Realmente não há nada tão absurdo que o hábito não torne aceitável.

As empresas privadas capitalistas fazem isso para perderem menos dinheiro. Perder menos dinheiro é ganhar dinheiro. O INSS faz isso para ganhar mais horas de trabalhos de peritos. Ganhar horas de trabalho peritos é...? É o que mesmo?Melhorar atendimento? - De repente lembrei de Salvador/BA. Continuando. O overbooking é tão valioso que compensa a empresa pagar milhões em indenizações por danos morais. Ela economiza 10 milhões com overbooking e gasta 5 milhões com acordos na justiça. Desgaste físico e mental e muita irritação dos usuários e funcionários de empresas marcam o overbooking aéreo. A empresa ganha R$2.000,00 reais e te paga R$1.000 de indenização. Sacrifica o seu nome comercial e os funcinários. É no funcionário que os prejudicado descarregam suas iras e revoltas. Na autarquia também não é de todo diferente, mas é muito mais covarde o procedimento porque uma população de muito baixa renda é sacrificada por uma empresa sem fins lucrativos. E muito pior. Enquanto os usuários das empresas aéreas têm dezenas de direitos regulamentados pela ANAC como: Acomodação em outro vôo da mesma empresa; Endosso do bilhete para embarque em outra empresa aérea; Refeições, facilidades de comunicação, hospedagem e transporte do hotel para o aeroporto (se for o caso), até o próximo embarque; Reembolso da passagem, caso desista da viagem e Concessão de uma compensação que será acordado entre o passageiro e a empresa aérea, os do INSS nada têm se não reclamar para o vazio, engolir seu pranto e remarcar a perícia para outro dia. Torcem em seu desespero para "Alcançar a graça de ser atendido". E o suado dinheiro gasto na passagem para ir voltar? (no Brasil há pessoas que viajam ainda centenas de Km para serem atendidas) E as horas esperando em vão o atendimento sob forte pressão? E a fome e a sede? (em várias APS não há copos d'água ou sequer água).  Quem clama por eles? MPF? Nada ele está preocupado com outras coisas...

O Ministério Público Federal está preocupado em notificar a Rede Globo sobre o BigBrother. O que faz para tentar melhora matéria de Previdência e Saúde parece ser resumido a perseguir aos Peritos do INSS e médicos pelo Brasil. Esta semana no RS foi instalado Ponto Eletronico na Rede de Saúde Pública que está muito a desejar em outras prioridades. É assim que ele parece agir. Dezenas de pessoas diariamente procuram o INSS e saem sem receber os seus serviços pelos quais pagaram, mas é só um detalhe, o importante é que os peritos estão 9horas nas agências. Cobrou solução e regulamentação da ANAC para resolver a questão dos aeroportos, já quando envolve matéria de INSS... Nada enérgico. Quem quer se comprometer politicamente? "Façamos um Grupo de Trabalho (GT)" penso que pensam.

Mas o que chama a atenção no INSS é quase um desafio a Lucidez. Ora, se sabe que não dá para fazer, mas mesmo assim arrisca. “Nada disso! Deixa lotada! Vai que falta uma pessoa e aí o doutor atende a agenda toda, né?” pensa o Gestor - Técnico Administrativo. Certa vez eu dei R$10,00 para que uma segurada com uma criança que estava chorando na porta da APS para que voltasse para sua casa. Eu não a tinha atendido, mas escutei quando ela disse que passou 7 horas sem tomar nem almoçar para economizar o dinheiro de voltar para usa casa. E tinha perdido o dinheiro de volta. É difícil assistir de Brasília.

Termino insistindo na Pergunta: Como é possível conviver com o Overbooking Previdenciário que prefere sacrificar o segurado por medo de um médico trabalhar menos? Como é possível conviver com uma autarquia que insiste em marcar Perícias de Alta complexidade como: Revisões de 2 anos, Aposentadoria por Invalidez, Perícias Judiciais, Benefícios longos em apenas 20 minutos? Como é possível entender que lute com toda resistência contra os Conselhos de Medicina e a visão daqueles que fazem a Perícia Médica do INSS? Ah! Em pleno Século XXI temos uma visão neofordista voltada para a lucratividade tempo/dinheiro numa autarquia federal em detrimento do sacrifício dos mais carentes. Não? Ah! Então respondam. Porque não se cria um Sistema de Apoio ao segurado não atendido? Porque não é indenizado em suas passagens? Porque absolutamente ninguém é punido? Porque não são ouvidos os milhares de médicos do trabalho dentro do INSS? Porque o MPF prefere se preocupar com o BBB a resolver a questão e a sociedade se cala?
Mudança Já! Se não for pelo perito que seja pelo segurado que é o mais prejudicado.
O Overbooking Previdenciário é a própria Rotina do Absurdo.

Um comentário:

Marcelo Rasche disse...

Esse relato é de arrepiar. Fui nomeado no atual concurso, mas decidi não tomar posse.

Acho que fiz a coisa certa.