domingo, 14 de agosto de 2011

O DIREITO A FELICIDADE NÃO É O BENEFÍCIO DO INSS


Duvido que haja um médico do INSS que nunca tenha refletido sobre seu esforço pessoal para chegar aonde chegou. Quanta pressão psíquica já suportou em vestibular, faculdade, residência e luta por empregos. Quantos problemas familiares, econômicos e de saúde precisou encarar. Quantas noites em claro passou sem dormir sequer por 5 minutos. Quantas vezes trabalhou com fome e exaurido. Quantos anos sem tirar férias. Quantas vezes caiu até o fundo poço e precisou se levantar. Digo sem medo de errar que a maioria dos profissionais médicos do INSS conhece de perto palavras como: pressão, frustração, persistência e resistência. Sabe que o dinheiro não resolve todos os problemas, apenas atenua quando não atrai outros ainda maiores. Conhece a dor e o sofrimento alheio de perto.

Uma matéria excelente, que recomendo a todos, da Jornalista da Revista Época Eliane Brum, chamada: A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada” revela com perfeitas palavras que a geração atual que está no mercado de trabalho não foi preparada pelos pais para frustrações nem para o esforço pessoal.  Ela diz num trecho que:
”[...]Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”. Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.[...]”
Observem que a descrição é exatamente a oposta experiência do “viver é sofrer” assumida, engolida e digerida pela maior parte dos médicos. Arrisco-me a dizer que atualmente existe  nos consultórios do INSS um choque ideológico entre médicos peritos e muitos segurados jovens.

Todos os dias trabalhadores de 18 a 35 anos doentes falam sobre aposentadoria por invalidez no INSS. Pessoas com ensino médio ou mesmo nível superior. Pessoas bonitas, eloquentes e inteligentes. A experiência me faz falar com propriedade sobre o tema. Ainda na última sexta-feira, uma jovem de 22 anos, que trabalhou por 7 meses numa empresa, falou abertamente sobre invalidez definitiva porque teria sido humilhada pelo empregador. Outra com 28 anos havia 4 anos que estava afastada por tendinose de ombro direito e se sentia “inútil” e “incapaz de realizar qualquer atividade” em definitivo. Outra com 31 anos afastada com transtorno depressivo moderado havia 1 ano e meio também não tinha previsão para retorno ao trabalho porque tinha "problemas pessoais familiares" com marido e filho que a impediriam de “ter vontade” de trabalhar. Outro dia um colega perito sem dormir há 3 dias por motivos profissionais se deparou com uma segurada afastada há 4 meses por insônia, irritabilidade e cefaléia crônica justificando que trabalhava com algo muito “importante” e não dava para trabalhar assim. O que o leitor acha que passou pela cabeça do colega?

Quero fazer entender que a idéia de receber Benefício por Incapacidade caiu como luva na mão para a nova geração de trabalhadores – seja urbano ou rural. Esta gera uma fantasiosa ausência de cobranças, satisfações e responsabilidades. Afasta do ambiente de frustrações e decepções. Ela está como válvula de escape para um jovem despreparado por seus pais para a vida e destinado a ser feliz sem precisar ser forte ou sofrer. Jovem que riu do esforçado e do que lutou para superar sua limitação. Jovem que aprendeu que se pode crescer e ser feliz sem sofrimento e que não aceitaas suas limitações. Jovem que tem como único empecilho a assinatura do perito do INSS para ser feliz para sempre. Para mim não há dúvidas, parte dos conflitos entre peritos e segurados existe pelas diferentes conjugações que fazem nos verbos “viver” e do “trabalhar”.

Outro dia uma reportagem da rede Record dizia que 50% dos médicos têm sintomas de depressão. No Blog Perito.med comentei sobre não conhecer nenhum médico no momento afastado próximo por depressão, embora conheça vários com sintomas. Os que eu conheci, o tinham feito por curtos períodos. Ou seja, embora grande parte estivesse doente, estaria trabalhando opondo-se a idéia simplista de incapacidade laboral por fazer uso de psicotrópicos e possuir diagnósticos. Quero provocar uma linha de raciocínio na qual existe possível interferência da experiência pessoal do perito no julgamento e talvez explicar a origem de muitos conflitos e, quem sabe, inclusive, apontar soluções para  os mesmos.

4 comentários:

HSaraivaXavier disse...

Por isso entendo que o histórico do trabalhador precisa ser levado em conta. 20 anos de carteira assinada precisam ser levados em conta.

Francisco Cardoso disse...

Sim, é exatamente esse o pano de fundo do problema - As pessoas acham que ser feliz e ter sucesso são direitos adquiridos (não sei de onde) e que não precisa se esforçar para tal êxito, que é "dever do estado". E felicidade e sucesso hoje em dia é grana no bolso.
Antigamente vc perdia o dinheiro mas nunca a honra. Hoje em dia a honra é a primeira a ir pro lixo se isso for trazer grana.
Este fenômeno não é local, é mundial. Vou postar um adendo a esse tópico maravilhoso comentando sobre isso e trazendo exemplos de fora.

Anônimo disse...

caros colegas,irei adiante simular uma declaração para ser apresentada ao perito no dia do exame pericial,e gostaria que os amigos peritos opinassem sobre a declaração:

HD. CID X - F20.0+F06.2+G40.2

paciente com quadro de depressão,ficando trancado dentro do quarto,tentou suicídio 2x(com arma de fogo),sem ânimo para nada,crises de choro,fisgadas no corpo todo,falta de ar,pareçe que todo dia está tendo infarto,ouve sussuros que não consegue identificar,ouve vozes lhe chamando,a vista pisca feito uns flashes em que vem várias imagens(retrato de sua avó e de seu pai),adinamia,anedonia,isolando-se,não querendo comunicar-se com ninguém,paciente mantendo quadro alucinatório,isolando-se,conversando com alucinações.paciente em uso de ansiolíticos,antiepilépticos,antiparkinsonianos e antipsicóticos.EEG - moderados sinais de disfunção de natureza irritativa de estruturas centroencefálicas com irregular exteriorização no registro,descargas de elementos espiculares de pequena voltagem mal constituídas com distribuição difusa,repetidas.paciente com 45 anos de idade.

Fernando disse...

Se for alterado o art.6º da Constituição, e mesmo assim, eu não encontrar a felicidade e continuar meio xarope! Vou culpar quem, o Dalai Lama?

" Ninguém na hora da morte, diz se arrepender de não ter aplicado o dinheiro em imóveis, ou ações, ou por não ter comprado isto ou aquilo, mas sim de ter esperado muito tempo, ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida "

Roberto Shinyashiki